Os últimos anos têm sido de grandes mudanças para a educação superior privada no Brasil. A crise econômica, retração dos programas sociais, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e o crescimento da Educação a Distância (EAD), têm impactado tanto estudantes quanto instituições de educação superior (IES). Para discutir o futuro do setor, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) realizou nesta manhã (8/5) o seminário “novas formas de captação e retenção de alunos”. A iniciativa reuniu especialistas no assunto que apresentaram práticas e estratégias para o aprimoramento das IES em seus processos e planejamento mercadológico, de modo a tornar as instituições mais competitivas.
Durante a abertura, o diretor presidente da ABMES, Janguiê Diniz, observou a importância do próximo passo das instituições para que consigam se manter no mercado após um período de transição para a educação superior particular. Uma das grandes preocupações dos gestores da área educacional tem sido encontrar soluções de captação e retenção de estudantes adequadas à realidade de cada instituição. “Por isso é tão importante este momento de troca de experiências práticas sobre o tema”, destacou Diniz.
O fundador da Educa Insights, Luiz Felipe Trivelato, ressaltou a importância da produção de conteúdo de apoio para as IES. Segundo ele, o pior momento das instituições, logo após as alterações no Fies, caminha para uma nova fase que é a de readaptação e que, por isso, precisam estar atentas aos rumos futuros do mercado. “A economia tem sinalizado uma retomada, com melhoras do desemprego e do PIB, estabilização da inflação e sinalização da melhora do desempenho industrial, que refletem na educação superior privada”. Dessa forma, segundo observa, é momento de as IES entenderem onde estão as oportunidades de crescimento, como no segmento de EAD. “Temos visto as taxas de matrícula nos cursos presenciais diminuir, ao passo que temos o crescimento da educação a distância. E esta tendência não tem volta, tenho dito isso há anos”, afirmou.
Trivelato chamou a atenção, ainda, para as diferentes realidades regionais que enfrentam as IES, com obstáculos distintos, variáveis muito desiguais em relação a taxas de matrículas, preço, retenção, etc. “Para que as instituições consigam manter um crescimento sustentável, precisam buscar atender todos estudantes com diferentes níveis de poder aquisitivo. Precisamos ter diferente produtos pra diferentes públicos, mas sempre primando pela qualidade do que é ofertado”, salientou.
Com contribuições práticas enriquecedoras, a vice-presidente da ABMES, Débora Guerra, falou sobre a necessidade de se ampliar as ações e medidas de captação e retenção dos estudantes nas IES indo além do convencional praticado atualmente, abordando a importância do relacionamento, especialmente, no que diz respeito às instituições regionais. “Temos sempre de olhar para o nosso modelo de gestão e para o entorno onde estamos inseridos. A captação vai além do marketing, ela abrange o relacionamento. São necessárias medidas de proximidade de relacionamento entre empresas, escolas, prefeituras, associações, etc. Além disso, é preciso toda a comunidade acadêmica diretamente envolvida no processo de retenção e captação dos estudantes”, salientou.
Como vice-reitora do Centro Universitário Una Minas Gerais e Goiás, Débora abordou experiências importantes que ajudaram a instituição a crescer e expandir, mesmo em tempos de crise. “Temos de cuidar da nossa sala de aula, do nosso produto, pois notamos que muitos alunos chegam por indicação de alguém que já tem algum vínculo com a instituição. As formar de captação têm a ver com a retenção, pois não bastam somente as campanhas e ações promocionais para atrair novos alunos. É preciso conhecer bem este prospect, quem é este aluno e como trabalhar na captação e retenção dele posteriormente", explicou.
O diretor da Unicesumar, Bruno Jorge, também levou contribuições práticas ao seminário. Ele destacou a importância de as IES agirem de modo preventivo em relação à evasão de estudantes, utilizando estratégias de inteligência nas ações. Com exemplos práticos de um case da instituição, Bruno explicou como as tecnologias disponíveis ajudam a mapear as opções que podem ser utilizadas. Ele mencionou cases de quatro alunos que evadiram da instituição alegando problemas financeiros. Entretanto, após análise de uma série de variáveis envolvendo estes alunos, constatou-se que dos quatro casos, em três o aspecto financeiro não foi o principal motivo, e sim problemas acadêmicos. “Observar o comportamento do aluno pode antecipar medidas que o retenham e não deixe chegar ao estágio da evasão. As IES têm de apurar esta sensibilidade. Tudo isso é possível por meio de mecanismos de inteligência”, destacou.
Aspectos práticos da temática foram trabalhados ainda durante o período da tarde na ABMES, durante o workshop que sucedeu o seminário. O momento foi uma importante oportunidade para os participantes explorarem questões que vivenciam no dia a dia das instituições, expor e trocarem experiências e dificuldades enfrentadas em cada realidade.